sábado, 19 de março de 2011

remBRANdt e modiGLIAni e um OLHar

Proposta de leitura de imagem.



Rembrandt – Retrato de Jovem com Corrente de Ouro 1635
Modigliani - Chakoskaóleo sobre tela, 81 x 45 cm


Segundo Renato Brolezzi¹, o retrato nasce e se firma com o objetivo de colocar diante dos olhos do observador a complexa trama das potências do espírito daquele que é retratado.


Por meio do “Retrato de Jovem com Corrente de Ouro” de Rembrandt, podemos observar a vivacidade da figura, a luz e sombra que valoriza a expressão (chiaroscuro). Não só ilumina o que considera valioso na figura como também o faz contrastar com o fundo negro e os tons ocres de suas vestes.


Percebemos nesta obra a preocupação do artista com a verossimilhança, mas ao mesmo tempo a emoção já se faz presente de forma sutil.


O personagem olha diretamente o espectador e transmite uma certa melancolia, criando uma sensação de que a qualquer momento vai se mover ou falar.


Na obra de Modigliani, notamos a valorização da subjetividade do artista, subjetividade que não despreza o conhecimento adquirido pelas escolas, mas que o agrega em sua criação.


A influência da arte africana e das correntes artísticas daquele momento histórico: expressionismo e cubismo estão presentes em sua obra.

Observando a obra “Chakoska” vemos a figura de uma mulher sentada como se estivesse a esperar alguém ou alguma coisa, seu rosto tem aspecto de máscara, referência às tradicionais máscaras africanas. Apesar de sua expressão serena há exageros no tamanho da testa, pescoço e braços. A cabeça em formato de ovóide e seus olhos são amendoados, o que gera uma sensação de estranheza, como se a figura não fizesse parte do nosso mundo.


No período de aproximadamente 300 anos que separam Rembrandt e Modigliani podemos notar o caminho traçado pelos artistas. Transformações que se deram por questões políticas, sociais e pessoais, a necessidade do artista expressar sua arte em sua subjetividade, sua liberdade de expressão e a materialização de sua visão de mundo.

Os artistas não se limitam em sua nova visão de arte, agregam também conceitos do passado, adaptando-os conforme sua necessidade.


Na obra de Modigliani podemos observar o retorno da linha favorecendo o desenho e ampliando a percepção isolada das formas, algo que Rembrandt já não utilizava, pois desenvolvia em sua obra uma pintura com contraste de luz e sombra e a diluição dos contornos.

No detalhe da obra ao lado, podemos ver a valorização da expressão da figura por meio da diversidade de tons, definindo cada musculatura do rosto. Vale destacar também a passagem brusca dos tons claros para os escuros destacando assim o volume.


Em “Chakoska” as passagens de tons são mais sutis e podemos notar a utilização de cores escuras. Na pele podemos observar tons alaranjados e avermelhados. O fundo é perceptível, mas não há muita profundidade, dando a idéia de que a figura esteja encostada numa parede. Como dito anteriormente, Modigliani não tem compromisso com a verossimilhança, ele busca para arte a sua subjetividade. As leves deformações presentes em suas obras tornam-na característica principal de sua individualidade, assim como a emoção que suas figuras transmitem pela junção das cores, expressão e postura.

Nas transformações da arte durante os longos períodos de sua história podemos dizer que os artistas têm se aperfeiçoado em técnicas e transmitindo por meio de suas obras a visão pessoal, para que sua arte não seja a cópia do real, mas sim a sua essência materializada.

¹ Historiador de arte e professor das Faculdades de Campinas e do Masp.

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